Leonardo passava vida completa de vadio, metido em casa todo o santo dia, sem lhe dar o menor abalo o que se passava lá fora pelo mundo. O seu mundo consistia unicamente nos olhos, nos sorrisos e nos requebros de Vidinha.
Um dia forjaram uma patuscada semelhante à que dera origem ao conhecimento do Leonardo com a família. Deviam sair de madrugada da cidade e passarem fora o dia. Preparou-se tudo: cestos de comida, esteiras e mais arranjos. Vidinha mandou encordoar de novo sua viola; avisaram-se os convivas do costume.
À hora aprazada partiram.
Quem estivesse menos distraído pelo prazer da patuscada do que estava qualquer dos suciantes, notaria que os dois primos deixavam-se de vez em quando ficar atrás, e cochichavam como se tramassem uma conspiração. Ninguém porém dera atenção a semelhante coisa.
Chegaram ao lugar determinado ao romper do dia. Apenas começavam a preparar-se para o almoço, viram surdir, ninguém soube bem de onde, a figura alta, magra, severa e sarcástica do nosso célebre major Vidigal. Correu por todos um sinal de pouco contentamento, exceto pelos primos, que trocaram entre si um olhar de inteligência e triunfo.
Os olhos de Vidinha dirigiram-se instintivamente para Leonardo.
O major Vidigal deixou passar o primeiro momento de surpresa, e depois, sorrindo-se, disse, como costumava, com sua voz descansada:
— Não tenham medo de mim, que não sou nenhum papa-crianças, nem eu venho desmanchar