costume, descerrara um ligeiro sorriso, deixando ver seus magníficos dentes.

O toma-largura parecia pertencer talvez à família dos Leonardos; enterneceu-se imediatamente, e não teve animo senão de sorrir-se e responder em tom desconcertado:

— Ora!...

— Ora, replicou Vidinha; e então, ele não diz-ora?-Qual! é preciso não ter pinga de vergonha: estas duas criaturas nasceram uma para a outra: Deus os fez e o diabo os ajuntou; uma toma caldo e o outro diz-ora...

E foi tomando a mantilha e tratando de sair.

Dera tudo em fogo de palha. Ela tinha esperado achar respostas enérgicas às suas invectivas, e neste pressuposto concertara mil planos de ataque, de defesa, de gritaria, de pancadas, de prisões, etc. Nada disto porém tinha sucedido, e sem saber por quê, ela mesma se sentia um pouco aliviada, quase até mesmo satisfeita. Deu mais rajadas aos dois; explicou quem era, mas não disse o que queria. Afinal, sem nada ter feito saiu dizendo:

— Ah! pensavam que a coisa havia de ficar assim? Disse-lhe poucas, porém boas...

O coração da mulher é assim; parece feito de palha, incendeia-se com facilidade, produz muita fumaça, mas em cinco minutos é tudo cinza que o mais leve sopro espalha e desvanece.

O toma-largura, apenas a viu sair, em vez de prorromper numa matinada contra sua companheira, como ela o esperava, pálida e trêmula, mostrou-se até tranqüilo, pretextou um afazer, e saiu também imediatamente. Andava-lhe na cabeça um plano cuja realização faria, como se costuma dizer, cair