— 147 —

Perdeu-o de vista. Só enxerga o bem pessoal.

— Não comparticipo dessa descrença, meu amigo. Basta que um homem no alto creia no bem publico para que os maiores milagres se operem. E isso é mais facil no Brasil do que em qualquer outra parte, uma vez que a forma real de governo aqui é a de uma perfeita dictadura sob apparencias constitucionaes.

— Facil de dizer, Mr. Slang. Os obices são tremendos...

— Mas não insuperaveis. Não ha obives insuperaveis para a boa vontade. E eu já noto por cá um começo de reviravolta na mentalidade. Conhece o vendeiro ali da esquina?

— O Ferreira, sei...

— Pois converso com elle ha annos e sempre o vi feroz contra os governos do Brasil, não admittindo hypothese de regeneração. Mas hontem estive lá e achei o meu homem mudado. Perdeu a carranca. Já sorri, coisa que passou os ultimos quatro annos sem fazer.

— "Que é isso, senhor Ferreira? Todo risonho..." disse-lhe eu.

O homem acabava de ler um jornal amarello.