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ra esclarecer, confirmar ou completar o material contido nas gramáticas e no vocabulário. Alguns aspectos da morfologia verbal já foram apresentados em artigo anterior [1].

O tratamento do sistema verbal do Tupi antigo aqui apresentado não pretende ser exaustivo e, muito menos, definitivo. Há lacunas que ficam a solicitar novos estudos e há pontos controvertíveis cuja fixação definitiva dependerá, igualmente, de investigações ulteriores (particularmente os parágrafos respeitantes aos aspectos verbais são apresentados com não pequena reserva). A análise lingüística por meio da qual se deduziu o sistema é o que talvez se poderia chamar uma análise “tradicional”, no sentido de que se prende, em suas linhas gerais, a uma tradição gramatical européia, vigente em nossas escolas, e que se distingue das novas técnicas de análise estrutural desenvolvidas pela lingüística norte-americana ou pela glossemática de Hjelmslev. A vantagem que pode apresentar esta análise “tradicional” é a de ser a mais acessível aos leitores brasileiros, dos quais as novas técnicas são ainda pouco conhecidas.

0.2. Fonemas. Os fonemas do Tupi antigo são os seguintes: a) consoantes p t k (oclusivas surdas não nasalizadas), mb nd ng (oclusivas sonoras nasalizadas), m n ñ (oclusivas sonoras nasais), b (em posição final, oclusiva; em posição inicial e medial, fricativa sonora bilabial), s x (fricativas surdas, dental e palatal resp.) r (vibrante apical); b) semivogais î û; c) vogais orais i e a o u y (esta última, alta posterior, não-arredondada), vogais nasais ĩ ẽ ã õ ũ ỹ; são nasalizadas as vogais precedidas ou seguidas por consoante nasal ou precedidas por vogal nasal. A semivogal û, quando inicial ou intervocálica, apresenta-se em geral consonantizada, como oclusiva lábio-velar sonora; esta variante é aqui escrita gû [2].

0.3. Fenômenos fonéticos. São indicados aqui, sumàriamente, os fenômenos fonéticos que mais interessam à morfologia verbal:


  1. Rodrigues, Arion Dall'Igna, Análise morfológica de um texto tupi. Logos (Curitiba), n. 15 (1952), pp. 56-77.
  2. Segundo a fonêmica norte-americana trata-se de um só fonema, razão por que deveria ser representado de uma só maneira.