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MULHERES E CREANÇAS

para a casa sem arranjo a que falta aquella poesia do lar que tanto o captivou nas suas scismas de rapaz; conversa, afaga-a, desenrola diante do olhar d’ella vago e distrahido um horisonte de futuras alegrias.

Um dia, porém, descobre com magoa que ninguem jámais poderá sondar nem comprehender, que tudo que elle esperou um dia assenta n’uma base chimerica; que essa mulher, a quem associou a sua vida, em vez de ser-lhe amparo, guia, consolação, conselho, em vez de luctar ao lado d’elle para conquistarem ambos a ventura dos filhos, o dôce e tranquillo socego da velhice, vive toda absorta n’um sonho de imaginarias riquezas; que empallidece de raiva de vêr as outras ricas emquanto ella é pobre; que amaldiçôa todos os dias o alimento que elle lhe ganha laboriosamente, porque lhe não é servido em pratos do Japão; que olha com desdem para os modestos presentes que elle á custa de longas economias consegue comprar-lhe; que detesta emfim tudo que elle ama; que tem o tedio invencivel de tudo que elle julgou, por muito tempo, o resumo de todas as suas alegrias!

N’essa hora dolorosa e que tem de soar fatalmente na vida de quasi todos estes obscuros luctadores, alguns, os mais fracos, amaldiçoam tambem a sua austera