Não me fallaste de uma cousa importantissima, filha.
Não me fallaste da panella.
Sou eu, pois, que vou fallar-te, com a mais profana das irreverencias, d’este assumpto que é um dos mais graves n’um ménage que principia.
Credo! exclamas tu com aquella moue engraçadissima, que eu te conheço do collegio, e que sempre teve a habilidade de me fazer rir immenso.
— «Pois eu sei lá sequer se ha em minha casa uma panella! Pois eu hei de misturar as confidencias extaticas da minha mysteriosa e ideal felicidade com a relação das minhas cassarolas! Que tem este amor que me enleva e me arrebata, com a comida que se manipula na cosinha! Deixa que eu te descreva as rendas e os setins com que me enfeito para lhe agradar a elle; mas, por Deus, pelo amor da arte, da poesia, da delicadeza feminil, não queiras que eu ajunte a essas descripções uma nova receita de refugado.»
Ouve-me, filha; ninguem attende por ahi estas verdades, que são elementares, tudo quanto ha de mais elementar.
Sabes onde se fabríca e se consolída a felicidade de um ménage?
Na cosinha.