MULHERES E CREANÇAS
293

terrivel casaca muito hostil, que me acenasse de longe com as suas azas de gafanhoto, se ella me apparecesse toda occupada de si, da sua toilette, dos triumphos que ia ter, e esquecendo completamente as exigencias mais prosaicas, do meu temperamento de homem, da minha vida de trabalhador, com certeza que me chegaria a minha hora de revolta, que o trabalho deixaria de ser o meio de que eu me servisse para alcançar o bem estar dos meus, e que se tornaria simplesmente uma tarefa exercida sem alma, sem alento interior, só para que o mundo me não alcunhasse de ocioso e de zangão da grande colmêa social.

Dos defeitos d’ella proviriam todos os meus defeitos, dos seus esquecimentos, todas as minhas faltas.

Já vês quanto ganhei casando-me com esta querida e nobre creatura.

Se me perguntares o que ella sabe, dir-te-hei que sabe tudo, e que a sciencia toda lhe provém de uma só fonte — o coração.

Comprehende Shakespeare e faz deliciosamente uma omellete, toca com o sentimento mais fino e mais ideal, uma phantasia de Beethoven, e inventou um systema engenhoso e abreviado de fazer o rol da lavadeira; adora as flores, os versos, as creanças, os livros, tudo que é bello, tudo que é bom na natureza, e de manhã, com a sua touquinha de cambraia branca,