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MULHERES E CREANÇAS

Não a mulher de uma certa e determinada classe, a mulher de todas as classes sociaes.

A esposa do alto financeiro, do colosso da industria, deseja vestir-se de um modo que logo de uma vez córte pela raiz na alma ainda mais ambiciosa o desejo de a vencer.

Ora, como este desejo se nutre de difficuldades, todas as que estão no mesmo caso d’ella travam a lucta e empregam os mais loucos esforços para lograrem a palma.

As raras flôres da nossa velha aristocracia, não querendo ser desthronadas pelos potentados modernos, entram, já se vê, no combate com grave transtorno das bolsas de seus respectivos maridos.

A nenhuma d’ellas cabe completa victoria; se as rendas de Bruxellas que guarnecem o vestido d’esta são mais preciosas, os diamantes que enfeitam o collo e os braços d’aquella são mais raros; se a traine de velludo d’est’outra é mais distincta, a tunica de setim e ouro da outra é mais singular.

E o combate recomeça mais feroz, mais acceso, mais desapiedado.

Cá em baixo a lucta toma as mesmas fórmas. É a lucta da falsa riqueza, a lucta das pedras que fingem brilhantes, das imitações que fingem rendas, dos vestidos concertados que fingem vestidos novos.