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MULHERES E CREANÇAS

Não se lembram do futuro, saboreiam com a volupia da paixão sensual os prazeres ephemeros d’essa hora que passa. No fundo, bem no fundo do pensamento, n’um escaninho escuro em que ambos fogem de entrar, porque sabem que lá os espera a desillusão, teem guardadas muitas das tristes descobertas que fizeram n’aquellas horas de abandono, de loucura, de extasi, em que as suas almas se embeberam voluptuosamente.

Elle sabe já que a mulher é frivola, é ignorante, é vaidosa, que vê no casamento as alegrias da vaidade, antes de ver os deveres e os sacrificios; ella tem a certeza de que todas aquellas promessas radiosas não passam de uma chimera que o tempo desfará, que o marido não tem as delicadezas que satisfariam a alma da mulher ainda a menos exigente, e a menos ambiciosa.

Na ebriedade d’aquelles primeiros tempos perdoam-se mutuamente os defeitos, que parecem até graciosos, lindos e feiticeiros.

O que os entristecerá mais tarde, o que avincará de rugas de mau prenuncio o rosto do marido, e fará encher de insondavel tristeza o coração da mulher, não é mais que a resultante das pequenas e todavia fataes concessões e desculpas que reciprocamente fizeram os noivos aos defeitos que viram apparecer nas