lembrança deixo-te o meu diario. Casa-te, procrêa, ganha dinheiro, sê feliz. Quando deres de engordar, lê-m'o. Adeus!

Disse e sumiu-se.

Por muito tempo conservei na gaveta o diario do meu amigo. Pesava-me, e a balança accusava sempre cincoenta e seis kilos. Agora que accusa cincoenta e nove, julgo-me em ponto de bala para folhear o mysterioso calbamaço. Faço-o, e encontro pequeninos quadros, paizagens, retratos, instantaneos psychicos, sonhos, idéas, revoltas, agedumes. Gaveta de sapateiro d'um menino que promettia.

E resolvo dal-o a publico, escolhendo quanto baste á prova de que Helio fez bem em mudar-se de mundo. Um contemplativo! Um patéta que se por aqui ficasse acabaria de cabelleira, a sonhar mundices da lua.

M. L.