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profundo silencio domina a sala inteira. Fóra do recinto, além da grade, dez, vinte caras habituaes, creaturas gulosas do epilogo que só apparecem para ouvir a sentença. Possuem fino o faro. Adivinham o momento e ao erguer-se o juiz alongam as orelhas com a mão em concha, arregalam os olhos, entreabrem a bocca, corpo e alma em riste para absorver, qual hostia santa, a palavra lugubre da sentença.

Méra curiosidade? Sadismo?

O juiz ergue-se, de papel na mão. O silencio é absoluto. A sala toda se transforma em ouvidos. O juiz lê “... condemno o reu tal a cinco annos de prisão cellular".

Os assistentes dispersam-se, as escadarias se enchem de gente sem pressa, calada, olhos absortos. O martyrio inflingido a um semelhante impressiona-os, como coisa que lhes póde cahir na cabeça um dia. Saem, descem em silencio. Aqui, alli, exclamações a meia voz: "Era preciso.