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Torcato Tasso, êsse aplica a fórmula à fermosura profana de Armida, na sua Gerusalemme (v, 34), dizendo:

Come per acqua o per cristallo intero
trapassa il raggio e no’l divide o parte
per entro il chiuso manto osa il pensiero
di penetrar ne la vietata parte.

Profanação, realmente.

Com Amador Arrais, o ilustre Bispo de Portalegre, o investigador brasileiro se vira a Portugal, às scenas da Anunciação e Conceição, e indirectamente a Sannazzaro. Entre os Diálogos dêle há um em que de perto se cinge ao autor do poema De Partu Virginis, e equipara a Virgem à vidraça por que passa o puro raio ([1]).

  1. É o Da invocação de N. S. (cap. LII). Eis o teor da carta que traslado textualmente:
    «Infelizmente, não consegui ainda avistar o De Partu Virginis — poema de 1525, em que Sannazaro, precedendo o cantor de Clorinda, teria fundido os metros dos de Beatriz e Laura, mas com aplicação mistica. Lá — a fonte provável tanto dos versos citados por V. E. como dos por mim citados. Foi ele assaz querido (sabe-o a investigadora insigne melhor que ninguem) dos quinhentistas portugueses: traduziu-o Caminha, imitou-o Camões, etc., etc.
    E A. Arraiz põe-nos na pista verdadeira ao que se me afigura, de passagens dos 'Diálogos. Escreveu no Da invocação de N. S. (cap. xxxiv, post. med.):
    «Acabando, pois, o arrazoamento do Anjo, deu a Virgem seu consentimento tão esperado dos filhos de Adão, abriu o coração à fé, a boca à confissão, e as entranhas ao creador, e disse: «En adsum, accipio venerans tua jussa tuumque dulce sacrum, pater omnipotens (Sann.) Eis aqui a serva do Senhor rendida a vossos mandados com a veneração devida». E ditas estas palavras, viu resplandecer com nova luz a casa onde estava, tanto que não podendo