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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

genero. Mas dize-me: onde estão as taes antennas de que falavas?

— As antennas! repetiu Legrand, que se zangava d'um modo inexplicavel, as antennas é impossivel que não as vejas! Pintei-as tão distinctas como estão no original, creio que é o sufficiente.

— Está bem, declarei eu. Supponhamos que as pintaste; o certo é que eu não as vejo.

E tornei a entregar-lhe o papel sem mais observações, não querendo exasperal-o. Comtado, o seu mau humor intrigava-me. Quanto ao esboço do insecto, não havia nem sombras de antennas visiveis e o conjuncto era tal e qual a imagem ordinaria de uma caveira.

Legrand pegou no papel com um ar aborrecido, mas no momento de o amarrotar, sem duvida para o lançar ao fogo, olhou para o desenho e a sua physionomia fez-se primeiro vermelha como um pimentão, depois excessivamente pallida. Durante alguns minutos contemplou-o immovel; por fim, pegou n'um candieiro e foi-se assentar em cima de um cofre, na outra extremidade da sala. Alli continuou a examinar curiosamente o papel, virando-o em todos os sentidos, sem dizer uma palavra. As suas maneiras causavam-me um espanto immenso; comtudo abstive-me de fazer commentarios, com medo de exasperar o seu máo humor crescente. Emfim, Legrand tirou uma carteira da algibeira, metteu-lhe dentro o papel, e arrecadou-a n'uma escrevaninha que fechou á chave. Então socegou um pouco mais, mas o seu primeiro enthusiasmo havia desapparecido totalmente. O seu aspecto agora era mais concentrado que descontente. Á medida que a noite avançava, parecia mais engolfado em profundas meditações, das quaes nenhuma das minhas perguntas poude arrancal-o.

Ao principio a minha intenção tinha sido passar a