O ESCARAVELHO DE OURO
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— E dás-me a tua palavra de honra que, depois d'este capricho passado, e o negocio do escaravelho resolvido conforme os teus desejos, voltarás para casa e seguirás á risca as minhas prescripções, como se fossem orde- nadas pelo medico?

— Dou; mas agora partamos, porque não ha tempo a perder.

A's quatro horas puzemo-nos a caminho, Legrand, Jupiter, o cão e eu. Jupiter levava a fouce e as enxadas, não por excesso de zelo ou de complacencia, mas para evitar que taes instrumentos cahissem nas mãos do seu senhor. Ia desesperado. Durante toda a viagem não lhe ouvi senão estas palavras repetidas a miudo: maldito escaravelho!

Eu tinha-me encarregado de levar duas lanternas de furta-fogo.

Quanto a Legrand, levava o escaravelho, pendurado á uma guita, e de vez em quando fazia-o andar á roda com ares cabalisticos.

Quando observei este symptoma supremo de demencia no meu pobre amigo, custou-me a suster as lagrimas. Todavia, pensei que era melhor seguir a sua phantasia, pelo menos provisoriamente, até poder tomar algumas providencias energicas. Tentei ainda sondal-o relativamente ao fim da expedição, mas foi inutil. Desde o momento em que tinha conseguido que eu o acompanhasse, parecia não estar disposto a grandes conversas. A todas as minhas perguntas, dignava-se apenas responder com um: Veremos!

Tomámos um batel para atravessar a angra, na extremidade da ilha, depois, trepando pelos terrenos montanhosos da margem opposta, dirigimo-nos para o noroéste, através d'uma região horrivelmente selvagem e desolada, onde não se descobriam vestigios de pégadas