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NOVELLAS EXTRAORDINARIAS

nidade do meu pobre amigo. Se tivesse podido contar com o auxilio de Jupiter, não teria hesitado em obrigar o nosso louco a voltar para casa; mas eu conhecia muito bem o caracter do velho negro, para esperar a sua assistencia, no caso de uma lucta com Legrand, em qualquer circumstancia que fosse. A minha opinião agora era que o pobre rapaz tinha o cerebro infectado com algumas innumeraveis superstições do sul, relativas a thesouros enterrados, e que esta imaginação fora confirmada pelo achado do escaravelho de ouro, ou talvez pela obstinação de Jupiter em sustentar que o escaravelho era de ouro verdadeiro. Um espirito varrido podía bem deixar-se arrastar por semelhantes suggestões, sobretudo concordando ellas com as suas idéas favoritas; depois lembrei-me do discurso do pobre rapaz ácerca do escaravelho, indicio da sua fortuna! Enfim, no embaraço extremo em que me achava, pensei que o melhor que tinha a fazer era cavar com todo o cuidado, afim de convencer o nosso visionario, o mais cedo possivel, com uma demonstração ocular, da inanidade dos seus devaneios.

Accendemos as lanternas e começámos a trabalhar com um zelo digno de melhor causa. Assim azafamados, no socego da noite, á luz das lanternas, as nossas pessoas e os nossos utensilios compunham um grupo devéras pittoresco: um intruso que tivesse cahido por acaso no meio de nós, teria dado a semelhante espectaculo uma interpretação estranha e suspeita.

Cavámos corajosamente durante duas horas, sem quasi darmos uma palavra, interrompidos apenas pelos latidos do cão que tomava um interesse excessivo pelo nosso trabalho. Os latidos do animal tornaram-se tão turbulentos que chegámos a ter medo de que elle désse o alarme a algum vagabundo da vizinhança; ou antes,