O POÇO E O PENDULO
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houvesse conseguido desamarral-o, teria agarrado o pendulo, tentando detel-o. Teria sido o mesmo que querer parar uma avalanche.

Cada vez mais baixo! incessante, inevitavelmente mais baixo! Suspirava dolorosamente e estremecia a cada vibração do medonho pendulo. Encolhia-me convulsivamente a cada um dos seus balanços. Os meus olhos, loucos de desespero, seguiam-lhe os movimentos ascendentes, fechando-se espasmodicamente no momento da descida. Posto que a morte tivesse sido uma consolação (oh! que indizivel consolação!) todo eu tremia ao pensar que bastava a machina descer mais um furo, para me enterrar no peito aquelle gume amolado e scintillante. Era a esperança que me fazia assim tremer, que me me levava a querer ainda demorar. Era a esperança! a esperança que triumpha do homem, até no cavallete; que fala ao ouvido do condemnado, até nas masmorras da Inquisição!!

Bastavam mais dez ou doze vibrações para pôr o aço em contacto immediato com o meu vestuario! Com esta observação, entrou-me no espirito o socego pungente do desespero. Pela primeira vez, desde bastantes horas (desde días, talvez), pensei. Pensei que se a faixa que me cingia, fosse feita d'uma só tira, a primeira mordedura do crescente devia deslaçal-a bastante para permittir á minha mão esquerda o movimento preciso para a desenrolar toda. Mas quão terrivel se tornaria então a proximidade do aço! E o resultado do mais pequeno tremor, mortal! Além d'isso, era verosimil que os meus graciosos carrascos não houvessem previsto e impedido aquella possibilidade? Era possivel que a ligadura me atravessasse o peito no caminho do pendulo? Tremendo de vêr frustrada a minha fraca, a minha unica esperança, levantei um pouco a cabeça, para vêr distincta-