O CORVO
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zer de effeitos poeticos e breves. Um poema não é poema senão quando nos eleva a alma, proporcionando-lhe uma excitação intensa. Ora, todas as excitações intensas são de curta duração; é isto uma condição psychologica. Eis a razão por que a metade do Paraízo perdido é pura prosa, apenas: uma serie de excitações poeticas, inevitavelmente semeiadas de depressões correspondentes, toda a obra sendo privada, por causa do seu excessivo tamanho, d'este elemento artistico, tão singularmente importante: totalidade ou unidade de effeito.

É portanto evidente que, no tocante á dimensão, ha um limite positivo para todas as obras litterarias, que vem a ser o limite de uma unica sessão. Comtudo, ha certa ordem de composições em prosa que não exigem a unidade e nas quaes póde haver mesmo uma vantagem em ultrapassar o limite da unidade. Mas um poema não o deve nunca ultrapassar. Mesmo n'este limite, a extensão do poema deve achar-se em relação mathematica com o seu merecimento, quero dizer, com a elevação ou excitação que elle comporta; ou, n'outros termos, com a quantidade de verdadeira sensação poetica que elle pode produzir nas almas. Esta regra não admitte senão uma condição restrictiva: é que certa quantidade de duração é absolutamente indispensavel para a producção de qualquer effeito.

Tendo bem presentes no espirito estas considerações, assim como certo grão de excitação que eu não collocava acima do gosto popular nem tambem abaixo da critica, concebi primeiro a idéa do comprimento que convinha ao meu poema projectado; um comprimento de cem versos, pouco mais ou menos. E effectivamente não lhe dei senão cento e oito.

Depois, o meu pensamento applicou-se á escolha de uma impressão ou de um effeito a produzir; e cabe