desejos cegos que levam às maiores audácias, insistiu. Ele mesmo lhe desafivelou a correia, para o obrigar. Então o rapaz, vergando segunda vez ao império daquela tenacidade de aço, obedeceu; e aborrecido, resignado, confuso por aquele vexame de exibição da sua miséria repelente, começou despindo os andrajos, que cada empuxão mais dilacerava, e atirando-os uns após outros, amarfanhados em rodilha, para trás do bastidor.

Quando o viu nu inteiramente, disse-lhe o barão:

— Põe-te em cima daquele estrado... Anda! — O rapaz subiu, sem perceber nada, começando a desconfiar que caíra nas mãos de um doido. — Põe-te direito... Assim... As pernas bem unidas... Dobra um pouco a perna direita... joelho para dentro. — Numa passividade idiota, o rapaz obedecia.
— Agora está bem!... Perfeito.

E toca de ir sentar-se-lhe na frente, a distância, a cavalo numa cadeira, o queixo fincado nos braços assentes sobre o espaldar, concentrado numa alta contemplação de escultor estudando o modelo que vai reproduzir. A cada segundo de exame, o entusiasmo e o prazer cresciam. — Admirável! admirável!... — exclamou num flamejo de êxtase. — Finalmente!... Não te mexas! — Num relâmpago arrastou a mesinha de pé-de-galo para o meio da casa, trouxe papel e lápis de uma gaveta, e sentou-se a copiar a formosa figura que tinha diante de si.

O rapaz vestia, com efeito, uma plástica opulenta e firme de mármore antigo. Devia ter 16 anos, a julgar pela indecisão do buço e pelo frouxel topazino da sua virilidade, mal apontando