que o barão procurava há muito, afincadamente, com a tenacidade mansa dos linfáticos: — um comprimento exagerado de fémur, uma distância relativamente grande entre a região púbica e o joelho. — Isto devia dar ao corpo um ar elançado e leve, um alongamento gracioso, um afinamento supremo de elegância, delicioso à retina de um artista. O barão morria por ver com os seus olhos, uma só vez que fosse, esta particularidade realizada. Em telas, gravuras, mármores, estava farto de a observar; mas queria encontrá-la no domínio da Natureza, flagrante, palpável, viva. Por isso havia anos que corria pertinazmente em cata do seu capricho. Dezenas de rapazes, de mulheres, de rapariguitas mesmo, tinham vindo àquela casa poisar perante a sua obstinação doentia. Perscrutinava ele na rua uma mulher fácil ou um garoto complacente que lhe parecesse deviam ter aquele desvio anatómico?... Não os largava enquanto não conseguisse, a impulso de astúcia e de dinheiro, conduzi-los à Rua da Rosa e analisar-lhes a nudez.

Mas a realização da sua fantasia era por extremo difícil neste nosso país de atarracados. Lá nas extensas regiões planas, por onde o corpo segue direito, e onde portanto a função locomotora se exercita desembaraçada e leve, numa mediocridade inalterável de esforço e numa igualdade sóbria de movimentos, que as leis do equilíbrio não obrigam geralmente a exceder, ser-lhe-ia fácil surpreender essa expansão vertical, tão idealmente apuradora da figura humana. Já não assim nas agruras das nossas terras montanhosas, em que o pé tem de ser garra, e em que a tirania dos bruscos e