Soam vozes na rua, cantos roucos
Fallam de morte e de agonia extrema.
Fúnebre lividez de tochas plácidas
E confuso murmúrio — e passos lentos
Soando nas calçadas — o cortejo
Negro d'entorno de um caixão aberto
E dentro branco e frio como mármore
Coberto do sudario, as mãos unidas
Onde o peito bateu — mas hoje é mudo,
As palpebras grudadas — a figura
Alongada p'la morte — vai deitado
No aperto do athaúde um corpo d'homem.


Chegaram todos á janella a vel-o
Com rir blasphemo sobre os impios lábios,
E a todos regelou no louco cérebro
A embriaguez da orgia o sahimento
E o medonho clarão que leva á cova
Aquelle que morreu...
                  Só um mais louco
Quiz reprimir o sentimento fundo —
— « Um enterro ! que admira ? nunca vistes
Gelar-se ao homem o calor da vida ?
Deixai o morto que se estire longo
Pelo lençol da cal que fria o enlaiva.
Morreu ! que importa mais ? matéria apenas!
Eil-o só podridão. Porque gelar-vos,