encostar o rosto à vidraça, esconder as duas lágrimas que irreprimivelmente lhe saltavam das pálpebras. Os dedos de Amélia embrulhavam-se também no teclado; até a mesma S. Joaneira disse:

— Oh! filha, toca outra coisa, credo!

Mas o cônego, erguendo-se pesadamente:

— Pois senhores, vão sendo horas. Vamos lá, Amaro. Eu vou consigo até a Rua das Sousas...

Amaro então quis dizer adeus à idiota; mas depois de um forte acesso de tosse, a velha dormia, muito fraca.

— Deixá-la sossegada, disse Amaro. E apertando a mão á S. Joaneira: - Muito obrigado por tudo, minha senhora, acredite...

Calou-se, com um soluço na garganta.

A S. Joaneira tinha levado aos olhos a ponta do seu avental branco.

— Oh, senhora! disse o cônego rindo-se, já há bocado lhe disse, o homem não vai para as Índias!

— A gente é pela amizade que lhes ganha, choramingou a S. Joaneira.

Amaro tentou gracejar. Amélia, muito branca, mordia o beicinho.

Enfim Amaro desceu: e o João Ruço, que na sua chegada a Leiria lhe trouxera o baú para a Rua da Misericórdia, muito bêbedo, cantarolando o Bendito, - levava-lho agora para a Rua das Sousas, bêbedo também, mas trauteando o Rei-chegou.



Quando Amaro, nessa noite, se viu só naquela casa tristonha, sentiu uma melancolia tão pungente