penitência, não necessitava cansar-se a ler orações no livro; celebrara o "seu sacrifício" - sentia-se vagamente quite com o Céu!

E continuava a viver só: o cônego nunca vinha à Rua das Sousas, "porque, dizia, era casa que só o entrar nela até se lhe agoniava o estômago". E Amaro, cada dia mais amuado, não voltara a casa da S. Joaneira. Escandalizara-se muito que ela não lhe tivesse mandado pedir para ir às partidas da sexta-feira; atribuíra "a desfeita" à hostilidade de Amélia; e, mesmo para a não ver, trocara com o padre Silveira a missa do meio-dia onde ela costumava ir, e dizia a das nove horas, furioso com aquele novo sacrifício!



Todas as noites Amélia, ao ouvir tocar a campainha, tinha uma palpitação tão forte no coração que ficava como sufocada um momento. Depois os botins de João Eduardo rangiam na escada, ou ela conhecia os passos fofos das galochas das Gansosos: apoiava-se então às costas da cadeira, cerrando os olhos, como na fadiga duma desesperança repetida. Esperava o padre Amaro; e às vezes, pelas dez horas, quando já não era possível que ele viesse, a sua melancolia era tão pungente que se lhe intumescia a garganta de soluços, tinha de pousar a costura, dizer:

— Vou-me deitar, estou com umas dores de cabeça que não paro!

Atirava-se para a cama de bruços, murmurava numa agonia:

— Oh Senhora das Dores, minha madrinha! Por que não vem ele, por que não vem ele?