vai pelo mundo, que quadrilha! - e ficou de braços cruzados, com os olhos arregalados, como contemplando uma legião de monstros, soltos pelo universo, e arremessando-se com impudência contra as reputações, os princípios da Igreja, a honra das famílias e o cebolinho do clero.

Ao sair, o padre Amaro renovou ainda as suas recomendações a D. Josefa, que o acompanhara ao patamar.

— Então hoje, noite de pêsames, não se faz nada. Amanhã fala à rapariga, e lá para o fim da semana leva-ma à Sé. Bem. E convença a rapariga, D. Josefa, trate de salvar aquela alma! Olhe que Deus tem os olhos em si. Fale-lhe teso, fale-lhe teso!... E o nosso cônego que se entenda com a S. Joaneira.

— Pode ir descansado, senhor pároco. Sou madrinha, e, quer ela queira quer não, hei-de pô-la no caminho da salvação...

— Amém, disse o padre Amaro.

Nessa noite, com efeito, D.Josefa "não fez nada". Eram os pêsames na Rua da Misericórdia. Estavam embaixo, na saleta, alumiada lugubremente por uma só vela com um abajur verde-escuro. A S. Joaneira e Amélia, de luto, ocupavam tristemente o canapé ao centro; e em redor, nas fileiras de cadeiras apoiadas à parede, as amigas, cobertas de negro pesado, conservavam-se funebremente imóveis, de faces contristadas, num torpor mudo: às vezes duas vozes ciciavam, ou dum canto, na sombra, saía um suspiro: depois o Libaninho, ou Artur Couceiro, ia em bicos de pés espevitar o morrão da vela; a D. Maria da Assunção expectorava o seu catarro com um