quereis ambos a rapariga. Como ele é o mais esperto e o mais decidido, apanhou-a ele. É lei natural: o mais forte despoja, elimina o mais fraco; a fêmea e a presa pertencem-lhe.

Aquilo pareceu a João Eduardo um gracejo. Disse, com a voz perturbada:

— Vossa excelência está a caçoar, senhor doutor, mas a mim retalhasse-me o coração!

— Homem, acudiu o doutor com bondade, estou a filosofar, não estou a caçoar... Mas enfim, que queres tu que eu te faça?

Era o que o doutor Godinho lhe tinha dito, também, com mais pompa!

— Eu tenho a certeza que se vossa excelência lhe falasse...

O doutor sorriu:

— Eu posso receitar à rapariga este ou aquele xarope, mas não lhe posso impor este ou aquele homem! Queres que lhe vá dizer: "A menina há-de preferir aqui o Sr. João Eduardo?" Queres que vá dizer ao padre, um maganão que eu nunca vi: "O senhor faz favor de não seduzir esta menina?"

— Mas caluniaram-me, senhor doutor, apresentaram-me como um homem de maus costumes, um patife...

— Não, não te caluniaram. Sob o ponto de vista do padre e daquelas senhoras que jogam a noite o quino na Rua da Misericórdia, tu és um patife: um cristão que nos periódicos vitupera abades, cônegos, curas, personagens tão importantes para se comunicar com Deus e para se salvar a alma, é um patife. Não te caluniaram, amigo!

— Mas, senhor doutor...