— Vejam vossas senhorias este rapaz! Começa por esquecer todos os deveres de cristão (assim no-lo afirmou D. Josefa), associa-se com bandidos, achincalha os dogmas nos botequins... Depois (sigam vossas senhorias a progressão), não contente com estes extravios, publica nos periódicos ataques abjetos contra a religião... E enfim, possuído duma vertigem de ateísmo, atira-se, diante mesmo da catedral, sobre um sacerdote exemplar (não é por vossa senhoria estar presente) e tenta assassiná-lo! Ora, pergunto eu, o que há no fundo de tudo isto? Ódio, puro ódio à religião de nossos pais!
— Infelizmente assim é, suspirou o padre Silvério.
Mas a Amparo, indiferente às causas filosóficas do delito, ardia na curiosidade de saber o que se passaria na administração, o que diria o escrevente, se o teriam posto a ferros... O Carlos prontificou-se logo a ir averiguar.
De resto, disse ele, era o seu dever, como homem de ciência, esclarecer a justiça sobre as consequências que podia ter trazido um murro, à força de braço, na região delicada da clavícula... (ainda que, louvado Deus, não havia fratura, nem inchaço), e sobretudo queria revelar à autoridade, para que ela tomasse as suas providências, que aquela tentativa de espancamento não provinha de vingança pessoal. Que podia ter feito o senhor pároco da Sé ao escrevente do Nunes? Provinha duma vasta conspiração de ateus e republicanos contra o sacerdócio de Cristo!
— Apoiado, apoiado! disseram os dois sacerdotes gravemente.