— Ah, João, que rapaziada, que rapaziada!... Mas a coisa arranja- se, verás!

João tinha encolhido tristemente os ombros. Havia meia hora que ali estava, sentado à beira daquele banco, sem se mexer, sem despregar os olhos do soalho, sentindo-se interiormente tão vazio de idéias, como se lhe tivessem tirado os miolos. Todo o vinho, que na taberna do Osório e no Largo da Sé lhe acendia na alma fogachos de cólera, lhe retesava os pulsos num desejo de desordem, parecia subitamente eliminado do seu organismo. Sentia-se agora tão inofensivo como quando no cartório aparava cautelosamente a sua pena de pato. Um grande cansaço entorpecia-o; e ali esperava, sobre o banco, numa inércia de todo o seu ser, pensando estupidamente que ia viver para uma enxovia em S. Francisco, dormir numa palhoça, comer da Misericórdia... Não tornaria a passear na alameda, não veria mais Amélia... A casita em que vivia seria alugada a outro... Quem tomaria conta do seu canário? Pobre animalzinho, ia morrer de fome, decerto... A não ser que a Eugênia, a vizinha, o recolhesse...

O Domingos de repente saiu do gabinete de sua excelência, e fechando vivamente a porta sobre si, em triunfo:

— Que lhes dizia eu? Composição! Arranjou-se tudo!

E para João Eduardo:

— Seu felizão! Parabéns! parabéns!

O Carlos pensou que aquele era o maior escândalo administrativo desde o tempo dos Cabrais! E ia retirar-se enojado (como no quadro clássico o