O Carlos roía-se. Todas aquelas explicações eram dadas ao Domingos! A ele, nada! Ali ficava, esquecido no vão da janela!
Mas não! Sua excelência, de dentro do seu gabinete, chamou-o misteriosamente com o dedo.
Enfim! Precipitou-se, radiante, subitamente reconciliado com a autoridade.
— Eu estava para passar pela botica - disse-lhe o administrador baixo e sem transição, dando-lhe um papel dobrado - para que me mandasse isto a casa, hoje. É um receita do doutor Gouveia... Mas já que o amigo aqui está...
— Eu tinha vindo para me pôr à disposição da vindita...
— Isso está acabado! interrompeu vivamente sua excelência. Não se esqueça, mande-me isso antes das seis. É para tomar ainda esta noite. Adeus. Não se esqueça!
— Não faltarei, disse secamente o Carlos.
Ao entrar na botica, a sua cólera flamejava. Ou ele não se chamava Carlos, ou havia de mandar uma correspondência tremenda ao Popular!... Mas a Amparo, que lhe espreitara a volta da varanda, correu, atirando-lhe as perguntas:
— Então? Que se passou? O rapaz foi para a rua? Que disse ele? Como foi?
O Carlos fixava-a, com as pupilas chamejantes.
— Não foi culpa minha, mas triunfou o materialismo1 Eles o pagarão!
— Mas tu que disseste?
Então, vendo os olhos da Amparo e os do praticante abertos para devorar a citação do seu depoimento - o Carlos, tendo de ressalvar a dignidade