Prevenia-a que o pretexto para ela vir todas as semanas a casa do sineiro devia ser a educação da paralítica: ele mesmo o proporia à noite, em casa da mamã. "Que nisto, dizia, há alguma verdade, pois seria grato a Deus que se alumiasse com uma boa instrução religiosa as trevas daquela alma. E matamos assim, querido anjo, dois coelhos com uma só cacheirada!"

Depois, entrou em casa. Como se sentou regaladamente à mesa do almoço, com um contentamento pleno de si, da vida e das doces facilidades que nela encontrava! Ciúmes, dúvidas, torturas do desejo, solidão da carne, tudo o que o consumira meses e meses, além na Rua da Misericórdia e ali na Rua das Sousas, passara. Estava enfim instalado à larga na felicidade! E recordava, abismado num gozo mudo, com o garfo esquecido na mão, toda aquela meia hora da véspera, prazer por prazer, ressaboreando-os mentalmente um a um, saturando-se da deliciosa certeza da posse - como o lavrador que percorre a leira de terra adquirida que os seus olhos invejaram muitos anos. Ah, não tomaria a olhar de lado, com azedume, os cavalheiros que passeavam na Alameda com as suas mulheres pelo braço! Também ele agora tinha uma, toda sua, alma e carne, linda, que o adorava, que usava boas roupas brancas, e trazia no peito um cheirinho de água-de-colônia! Era padre, é verdade... Mas para isso tinha o seu grande argumento: é que o comportamento do padre, logo que não dê escândalo entre os fiéis, em nada prejudica a eficácia, a utilidade, a grandeza da religião. Todos os teólogos ensinam que a ordem dos sacerdotes foi