lúgubre, que lhes parecia vir dos infernos, chegava-lhes ainda, perseguia-os:

— Estão a pegar-se os cães! Estão a pegar-se os cães!

Amélia caía sobre o catre, quase desmaiada de terror. Jurava não voltar àquela casa maldita...

— Mas que diabo queres tu? dizia-lhe o padre furioso. Onde nos havemos de ver então? Queres que nos deitemos nos bancos da sacristia?

— Mas que lhe fiz eu? que lhe fiz eu? exclamava Amélia, apertando as mãos.

— Nada! É doida... E o pobre tio Esguelhas tem tido um desgosto... Enfim, que queres que lhe faça?

Ela não respondia. Mas em casa, quando se ia aproximando o dia do rendez-vous, começava a tremer à idéia daquela voz que lhe atroava sempre nos ouvidos e que sentia em sonhos. E este terror ia-a despertando lentamente do adormecimento de todo o ser, em que caíra nos braços do pároco. Interrogava-se agora: não andaria cometendo um pecado irremissível? As afirmações de Amaro, assegurando-lhe o perdão do Senhor, já não a tranquilizavam. Ela bem via, quando a Totó uivava, uma palidez cobrir o rosto do pároco, como correr-lhe no corpo um calafrio do inferno entrevisto. E se Deus os desculpava - por que deixava assim o demônio atirar- lhes, pela voz da paralítica, a injúria e o escárnio?

Ajoelhava então aos pés da cama, arremessava orações sem fim para Nossa Senhora das Dores, pedindo-lhe que a alumiasse, que lhe dissesse o que era aquela perseguição da Totó, e se era sua