escada sem a deter, com coceguinhas aqui e ali, palmadinhas na face muito prolongadas. Queria-a em casa repetidas vezes pela manhã; e enquanto Amélia palrava com D. Josefa, o cônego não cessava de rondar em torno dela, arrastando as chinelas com um ar de velho galo. E eram entre Amélia e a mãe conversas sem fim sobre esta amizade do senhor cônego, que decerto lhe deixaria um bom dote.

— Seu maganão, tem dedo! - dizia sempre o cônego quando estava sò com Amaro, arregalando os olhos redondos. Aquilo é um bocado de rei!

Amaro entufava-se:

— Não é mau bocado, padre-mestre, é um bom bocado.

Era este um dos grandes gozos de Amaro - ouvir gabar aos colegas a beleza de Amélia, que era chamada entre o clero "a flor das devotas". Todos lhe invejavam aquela confessada. Por isso insistia muito com ela em que se ajanotasse aos domingos, à missa; zangara-se mesmo ultimamente de a ver quase sempre entrouxada num vestido de merino escuro, que lhe dava um ar de velha penitente.

Mas Amélia, agora, já não tinha aquela necessidade amorosa de contentar em tudo o senhor pároco. Acordara quase inteiramente daquele adormecimento estúpido da alma e do corpo, em que a lançara o primeiro abraço de Amaro. Vinha-lhe aparecendo distintamente a consciência pungente da sua culpa. Naqueles negrumes dum espírito beato e escravo, fazia- se um amanhecimento de razão. - O que era ela no fim? A concubina do senhor pároco. E esta idéia, posta