paixão, foi, para obsequiar o tio Esguelhas; mas impressionava-o aquela morte, coincidindo com a partida de Amélia, e como completando a súbita dispersão de quanto até aí o interessara ou estivera misturado à sua vida.

A porta da casa do sineiro estava entreaberta, e na escuridão da entrada topou com duas mulheres que saíam suspirando. Foi logo direito à alcova da paralítica: duas grandes velas de cera, trazidas da igreja, ardiam sobre uma mesa: um lençol branco cobria o corpo da Totó; e o padre Silvério, que fora decerto chamado por estar de semana, lia o Breviário, com o lenço nos joelhos, os seus grandes óculos na ponta do nariz. Ergueu-se apenas viu Amaro:

— Ah, colega, disse muito baixo, andaram a procurá-lo por toda a parte... A pobre de Cristo queria-o a você... Eu, quando me foram buscar, ia fazer a partida a casa do Novais. É a partida do sábado... Que cena! Morreu na impenitência, como era dos livros. Quando me viu, e que você não vinha, que espetáculo! Até tive medo que me cuspisse no crucifixo...

Amaro, sem dar uma palavra, ergueu uma ponta do lençol, mas deixou-o logo recair sobre a face da morta. Depois subia acima, ao quarto onde o sineiro, estirado sobre a cama, voltado para a parede soluçava desesperadamente; estava com ele outra mulher, que se conservava a um canto, muda, e imóvel, com os olhos no chão, no vago aborrecimento que lhe dava aquele pesado dever de vizinha. Amaro tocou no ombro do sineiro, falou-lhe:

— É necessário resignação, tio Esguelhas...