pelo terror de ofender a Deus... Que o Senhor não era um amo feroz e furioso, mas um pai indulgente e amigo... Que é por amor que é necessário servi-lo, não por medo... Que todos esses escrúpulos, Nossa Senhora a enterrar alfinetes, o nome de Deus a cair no estômago, eram perturbações da razão doente. Aconselhou-lhe confiança em Deus, bom regime para ganhar forças. Que não se cansasse em orações exageradas...

— E quando eu voltar, disse enfim erguendo-se e despedindo-se, continuaremos a conversar sobre isto, e havemos de serenar essa alma.

— Obrigada, senhor abade, respondeu a velha secamente.

E apenas a Gertrudes daí a pouco entrou a trazer-lhe a botija para os pés, D. Josefa exclamou, toda indignada, quase choramigando:

— Ai, não presta para nada, não presta para nada!... Não me percebeu... É um tapado... É um pedreiro-livre, Gertrudes! Que vergonha num sacerdote do Senhor...

Desde esse dia não tornou a revelar ao abade os pecados medonhos que continuava a cometer; e quando ele, por dever, quis recomeçar a educação da sua alma, a velha declarou-lhe sem rodeios que, como se confessava com o Sr, padre Gusmão, não sabia se seria delicado receber de outro a direção moral...

O abade fez-se vermelho, respondeu:

— Tem razão, minha senhora, tem razão, deve-se ter muita delicadeza nessas coisas...

Saiu. E daí por diante, depois de ter entrado no quarto a saber-lhe da saúde, de ter falado do tempo, da estação, das doenças que iam, de alguma