fazendo um vendaval com as abas prodigiosas do seu robe-de-chambre amarelo.

— No fundo um anjo, dizia o abade a João Eduardo. Capaz de dar a camisa mesmo a um padre, se o soubesse em necessidade... E você aqui está bem, João Eduardo... É não lhe reparar nas manias...

Tinha tomado afeição a João Eduardo, o abade Ferrão: e sabendo por Amélia a famosa legenda do Comunicado quisera, segundo a sua expressão querida, "folhear o homem aqui e além". Conversava com ele tardes inteiras na rua de loureiros da quinta, na residência onde João Eduardo se ia fornecer de Iivros; e sob o "exterminador de padres", como dizia o Morgado, encontrara um pobre moço sensível, com uma religião sentimental, ambições de paz doméstica, e prezando muito o trabalho. Então viera-lhe uma idéia que, sobretudo por lhe ter acudido num dia que saia das suas devoções ao Santíssimo, lhe parecia descida de cima, da vontade do Senhor: era o casá-lo com Amélia. Não seria difícil levar aquele coração fraco e terno a perdoar o erro dela; e a pobre rapariga, depois de tantos transes, extinta aquela paixão que lhe entrara na alma como um sopro do demônio, levando-lhe a vontade, a paz e o pudor de empurrão para o abismo, encontraria na companhia de João Eduardo todo um resto de vida calmo, e contente, um canto suave de interior, refúgio doce e purificação do passado. Não falou nem a um, nem a outro, nesta idéia que o enternecia. Não era o momento agora, que ela trazia nas entranhas o filho do outro. Mas ia preparando com amor aquele resultado, -