silêncio aristocrático aterrava Amaro; esteve um momento, com o seu guarda-sol pendente do dedo mínimo, hesitando; tossiu devagarinho, para acordar o criado que lhe parecia terrível com a sua bela suíça preta, o seu rico grilhão de ouro; e ia descer, quando ouviu por detrás dum reposteiro um riso grosso de homem. Sacudiu com o lenço o pó esbranquiçado dos sapatos, puxou os punhos, e entrou muito vermelho numa larga sala com estofos de damasco amarelo; uma grande luz entrava das varandas abertas, e viam— se arvoredos de jardim. No meio da sala três homens de pé conversavam. Amaro adiantou-se, balbuciou:
— Não sei se incomodo...
Um homem alto, de bigode grisalho e óculos de ouro, voltou-se surpreendido, com o charuto ao canto da boca e as mãos nos bolsos. Era o senhor conde.
— Sou o Amaro...
— Ah, disse o conde, o Sr. padre Amaro! Conheço muito bem! Tem a bondade... Minha mulher falou-me. Tem a bondade.
E dirigindo-se a um homem baixo e repleto, quase calvo, de calças brancas muito curtas:
— É a pessoa de quem lhe falei. — Voltou-se para Amaro: — É o senhor ministro.
Amaro curvou-se, servilmente.
— O Sr. padre Amaro, disse o conde de Ribamar, foi criado de pequeno em casa de minha sogra. Nasceu lá, creio eu...
— Saiba o senhor conde que sim, disse Amaro, que se conservava afastado, com o guarda-sol na mão.
— Minha sogra, que era toda devota e uma