passado? continuou Teresa. Não me lembra agora o nome...

— Bem sei, o Jalette, disse a condessa. — Bastante. No cabelo, não.

— Está visto, o outro não tinha coroa!

Amaro fez-se escarlate. Teresa ergueu-se arrastando a sua soberba cauda, sentou-se ao piano.

— Sabe música? perguntou, voltando-se para Amaro.

— A gente aprende no seminário, minha senhora.

Ela correu a mão, um momento, sobre o teclado de sonoridades profundas, e tocou a frase do Rigoletto, parecida com o Minuete de Mozart, que diz Francisco I, despedindo-se, no sarau do primeiro ato, da senhora de Crécy, — e cujo ritmo desolado tem a abandonada tristeza de amores que findam, e de braços que se desenlaçam em despedidas supremas.

Amaro estava enlevado. Aquela sala rica com as suas alvuras de nuvem, o piano apaixonado, o colo de Teresa que ele via sob a negra transparência da gaze, as suas tranças de deusa, os tranquilos arvoredos de jardim fidalgo davam-lhe vagamente a idéia duma existência superior, de romance, passada sobre alcatifas preciosas, em coupés acolchoados, com árias de óperas, melancolias de bom gosto e amores dum gozo raro. Enterrado na elasticidade da causeuse, sentindo a música chorar aristocraticamente, lembrava-lhe a sala de jantar da tia e o seu cheiro de refogado: e era como o mendigo que prova um creme fino, e, assustado, demora o seu prazer — pensando que vai voltar à dureza das côdeas secas e à poeira dos caminhos.