— Há-de-se dar regaladamente, afirmou o cônego, sorvendo o seu rapé.
Eram oito horas quando recolheram a casa da S. Joaneira.
As velhas amigas estavam já na sala de jantar. Ao pé do candeeiro de petróleo, Amélia costurava.
A Sra. D. Maria da Assunção vestira-se, como nos domingos, de seda preta: o seu chinó, dum louro avermelhado, estava coberto com as rendas de um enfeite negro; as mãos descarnadas, calçadas de mitenes, solenemente pousadas no regaço, reluziam de anéis; do broche sobre o pescoço até ao cinto, um grosso grilhão de ouro caía com passadores lavrados. Conservava-se direita e cerimoniosa, com a cabeça um pouco de lado, os óculos de ouro assentes sobre o nariz acavalado: tinha no queixo um grande sinal cabeludo; e quando se falava de devoções ou de milagres dava um jeito ao pescoço, e abria um sorriso mudo que descobria os seus enormes dentes esverdeados, cravados nas gengivas como cunhas. Era viúva e rica, e sofria dum catarro crônico.
— Aqui tem o senhor pároco novo, D. Maria, disse-lhe a S. Joaneira.
Ela ergueu-se, fez uma mesura com um movimento de quadris, comovida.
— Estas são as senhoras Gansosos, há-de ter ouvido... disse a S. Joaneira ao pároco.
Amaro cumprimentou timidamente. Eram duas irmãs. Passavam por ter algum dinheiro, mas costumavam receber hóspedes. A mais velha, a Sra. D. Joaquina Gansoso, era uma pessoa seca, com uma testa enorme e larga, dois olhinhos vivos, o nariz arrebitado, a boca muito espremida.