Em caminho, pela primeira vez, refletiu Manuel sobre os últimos acontecimentos, em que se achara envolvido, sem o esperar. Até então não se dera ao trabalho de pensar a este respeito; mas agora, na monotonia de uma jornada perdida, seu espírito era arrastado malgrado pelas recordações tão vivas ainda.

Era possível que ele, filho de João Canho, houvesse um momento sustido nos braços o assassino de seu pai; e não para matá-lo, mas para servi-lo?

Acreditaria alguém que ele, trazido àquele lugar pelo desejo da vingança, se tivesse desvelado durante alguns dias pela salvação do causador de sua desgraça?

Sua própria razão não concebia como isso acontecera. Às vezes vinham assomos de dúvida, que se desvaneciam logo ante a realidade tão recente. Manuel tinha a consciência de sua natureza ríspida e concentrada; a indiferença e frieza que mostrava em seu trato, não provinham de um hábito somente; eram a repercussão interior da pouca estima em que o gaúcho tinha geralmente a raça humana.

Entretanto, nos últimos dias ele fora tão outro,