Tinha a baia parado a alguma distância e vibrava o olhar cintilante sobre a gente reunida então perto do alpendre. Suspensa na ponta dos rijos cascos, longos e delgados, de cabeça levantada, cruzando a ponta das orelhas finas e canutadas, com o pêlo erriçado e a cauda opulenta a espasmar-se pelos rins, parecia o animal prestes a desferir a corrida veloz.

O Canho adiantou-se alguns passos, cravando o olhar na pupila brilhante da baia, ao passo que soltava dos lábios um murmurejo semelhante ao rincho débil do poldrinho recém-nascido, quando busca a teta materna. No semblante rude e enérgico do moço gaúcho se derramava um eflúvio de ternura.

Ao doce murmurejo, as orelhas do animal titilaram com ligeiro estremecimento, enroscando-se como uma concha, para colher algum som remoto, esparso no ar. Fita no semblante de Manuel a vista ardente e sôfrega, dir-se-ia que a inteligente égua interrogava o pensamento do homem e queria compreendê-lo.

À medida que ela inalava o fluido magnético do olhar do gaúcho, uma expressão meiga e terna se refletia na pupila negra. Serenava a