calma impassível. Sua voz era firme, embora áspera como o ranger do vidro:

— Jurei que lhe pertenceria, Manuel: acreditava que lhe queria bem. Enganei-me; o homem que eu devia amar, era outro. Me perdoe; esqueça-se de mim que não merecia ser sua mulher.

Manuel ouvia o borborinho destas palavras; e sentia que lhe caíam, a uma e uma, dentro d’alma, como o granizo gelado que durante o inverno peneira sobre a campanha, e mata a semente no seio da terra.

À porta assomou a figura de Lucas Fernandes. Avistando-se, os dois corações, feridos pelo mesmo golpe, se lançaram um ao outro, como para se ampararem mutuamente contra o infortúnio:

— Desonrado, Manuel! exclamou o pai, apertando em seus braços o gaúcho.

Este não proferiu palavra; mas nas profundezas d’alma repercutiu o grito que ele conseguira sufocar nos lábios; e no semblante derramou-se todo o fel, que lhe extravasava do coração.

Lucas viu essa expressão de uma dor imensa: e arrancando a faca da cinta do Canho arrojou-se para a filha. No primeiro assomo Catita empalideceu,