De repente a lua sepultou-se. Céu e terra submergiram-se num oceano de trevas. O aluvião das procelas se arremessara do horizonte e inundara a imensidade do espaço. Houve então um momento de silêncio pavoroso; era a angústia da natureza asfixiada pela tormenta.
Afinal ribombou o trovão na vasta abóbada negra, sobre a qual o relâmpago despejava cataratas de chamas. Não era uma tempestade; mas um turbilhão de tempestades, bacantes em delírio, que tripudiavam no céu. Como os touros acossados pelo gaúcho arremetem com fúria e rompem a selva bramindo, assim o tropel das borrascas disparava pelo espaço.
O pampeiro, varrendo dos cimos dos Andes todas as tempestades que ali tinham condensado os calores do estio, verberava na imensidade as pontas do látego formidável com que ia açoitar o oceano.
Atônitos e mudos de espanto, os animais contemplavam o grande paroxismo da natureza. A voz do trovão, o verbo das grandes cóleras celestes, sopitava todos os gritos e todos os rumores. A terra pávida e estupefata recebia a tremenda flagelação no