O italiano achava-se então no mesmo lugar que na noite da chegada, algumas braças distante da janela de Cecília, onde não podia chegar por causa do ângulo que formavam o rochedo e o edifício.
A tábua foi colocada na direção da janela; a primeira vez tinha-lhe bastado o seu punhal; agora também necessitava de um apoio seguro, e do livre movimento de seus braços. Rui colocou-se sobre a ponta da tábua, e segurando-se a um frechal do alpendre manteve imóvel sobre o precipício essa ponte pênsil em que o italiano ia arriscar-se.
Quanto a este, sem hesitar, tirou as suas armas para ficar mais leve, descalçou-se, segurou a longa faca entre os dentes, e pôs o pé sobre a prancha.
— Esperar-me-eis do outro lado, disse o italiano.
— Sim, respondeu Rui com voz trêmula.
A razão por que a voz de Rui tremia, era um pensamento diabólico que começava a fermentar no seu espírito. Lembrou-lhe que tinha na mão Loredano e o seu segredo; que para ver-se livre de um e senhor do outro, bastava afastar o pé e deixar a tábua inclinar sobre o abismo.