Pouco e pouco o dia foi rompendo; o arrebol da manhã desenhou-se no horizonte, tingindo as nuvens com todas as cores do prisma. O primeiro raio do sol, desprendendo-se daqueles vapores tênues e diáfanos, deslizou pelo azul do céu, e foi brincar no cabeço dos montes.
O astro assomou, e torrentes de luz inundaram toda a floresta, que nadava num mar de ouro marchetado de brilhantes, que cintilavam em cada uma das gotas do orvalho suspensas às folhas das árvores.
Os habitantes da casa, despertando, admiravam esse espetáculo magnífico do nascer do dia, que depois de tantas tribulações e de tantas angústias, lhes parecia completamente novo.
Uma noite de quietação e sossego os tinha como que restituído à vida; nunca esses campos verdes, esse rio puro e límpido, essas árvores florescentes, esses horizontes descortinados se haviam mostrado a seus olhos tão belos, tão risonhos como agora.
É que o prazer e o sofrimento não passam de um contraste; em lata perpétua e continua, eles se acrisolam um no outro, e se deparam: não há homem verdadeiramente feliz senão aquele que já conheceu a desgraça.