ao piano e à flauta, tentando sufocar o que lhes ia pelo organismo inteiro, a febre que os devorava, num oceano sem fundos de harmonias, custando muito em acertar o compasso, tocando quase sempre ao acaso das recordações, vendo pouco e distraidamente a música que tinham diante dos olhos, com vontades de pôr um termo àqueles sofrimentos, de dizerem-se mutuamente os turbilhões de desejos que os abrasavam.

Pela porta que haviam deixado aberta, de envolta com o sopro de vida mansa e sossegada que vinha lá de dentro, Nenê sentia a beijarem-lhe as espáduas e a nuca, em satânicos de cantáridas, umas arreitações gostosas que a prostravam. Parecia-lhe ouvir, em tons murmurantes, umas excitações tresloucadas a lhe falarem de amor. Era a voz de d. Augusta, nas intimidades do a sós, tecendo elogios ao Marcondes, achando-o um rapaz sério e refletido que tinha diante de si largos horizontes e um futuro sorridente de prosperidade. Era sá Jovina entoando em homenagem ao moço uns louvores sem fim, descobrindo-lhe qualidades raras, fazendo o protótipo das virilidades. Era o Pedro, que à noite, no aconchego dos lençóis, lhe contava anedotas da vida colegial, uns rasgos de coragem