mundo de paixões a calciná-la. Ele então seria bom, perdoar-lhe-ia todos estes insultos, procuraria acalmá-la, gastando-lhe o fogo nuns beijos longos, amorosos e quentes! E esperava sempre, indefinidamente, num exaltamento de sensualidades, tendo apagado a luz e deixado a porta aberta, estremecendo ao menor ruído, julgando a cada momento palpar-lhe, entre os braços, o corpo gentil das boas carnações sadias, das desenvolturas fáceis de serpente.

E de fato, Nenê com a longa meditação da noite, ali na cama, sentindo por entre a branda quentura dos lençóis o corpo do marido todo entregue à satisfação de dormir, burilava umas elaborações penosas de pensamentos maus. Achava que o Marcondes procedera muito canalhamente querendo namoricar, ali mesmo às suas vistas. Vinham-lhe uns verdadeiros ciúmes a escaldar-lhe o sangue. Queria-o para si, não como um amante mas como um adorador! Habituara-se àquelas demonstrações silenciosas e humildes de veneração. Toda a sua vaidade de mulher bonita gostava desse incenso com que lhe acariciavam a plástica graciosa. Chegara mesmo a sonhar a existência assim. Numa grande calmaria de paixões e de