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O INFERNO

n'isto masmorras, forcas, e os instrumentos de tortura que as nossas proprias mãos forjaram.

Ha com effeito lá n'essas profundezas demonios que se fazem corporeos, para mais a preceito atormentarem os homens em suas carnes. Uns tem azas de morcego, pontas, coiraças escamosas, griphos e agudissimos dentes. Temol-os visto pintados, armados de espadas, de forcados, de tenazes ardentes, de serras, de grelhas, de folles, de clavas, empregando tudo isto durante a eternidade n'uma especie de açougue e cosinha da carne humana. Ha outros transformados em leões, e viboras enormes, arrastando as prêas em solitarias cavernas.

Alguns desfiguram-se em corvos para arrancar os olhos a certos padecentes, em quanto outros se transformam em dragões volateis, e vão carregados d'almas sanguentas e lastimosas atravez de tenebrosos espaços, e as precipitam no lago de enxofre. Além se vê nuvens de gafanhotos, e de agigantados escorpiões, cuja vista arripia, cujo cheiro enoja, cujo menor contacto convulsiona. Acolá estão os monstros polycephalos abrindo vorazes fauces, sacudindo as crinas formadas de aspides, triturando os condemnados entre os seus queixos sangrentos, e vomitando-os logo mastigados, mas ainda vivos, porque são immortaes.

Estes demonios de fórma sensivel, recordando tão ao vivo os deoses do Amenthi e do Tartaro e os idolos que os phenicios, os moabitas e outros gentios visinhos da Judea adoravam, estes demonios não funccionam