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O INFERNO

Adão e Noé. Se se trata simplesmente do inferno, isso então acha-se em toda a parte. Um paria vagabundo, um pagão abjecto, um negro, um hottentote tremente em face d'um fetiche, eis as testemunhas, os consultados, os doutores. É mais que certo que taes miseraveis haviam perdido as noções todas do bem; dormiam com as servas e até com as irmãs; vendiam na feira as filhas e ás vezes as mães; profanavam os hospedes; eram ladrões, eram antropophagos; adoravam pedras, serpentes, sapos, e, peor que tudo, homens, facinoras ensanguentados; mas criam no inferno. Clarão de consciencia não lampejava n'elles só um; não estremavam raia entre virtude e vicio; e, posto que taes distincções lhes houvessem sido reveladas, tinham-nas esquecido. Vêde, porém, o prodigio: quanto ahi havia incomprehensivel para nós e ainda mais para elles; tudo que transcende a alçada da experiencia; tudo quanto a simples razão não póde revelar — tudo, em fim, que, pelo conseguinte, mais facilmente se desluz da memoria, oh! tudo isso lhes ficou na lembrança!

Que argumento a pró do inferno!

Quem ousa impugnar verdade tão de fundamento provada? Cafres, Papus, Saabs, Bushmans creram no inferno! Patagões, Muskogis, Algonquinos, Chipperrais, Sioux creram no inferno! Hunos, Alanos, Ostrogodos, Gepidas, Vandalos creram no inferno! Tambem creram n'isso Cananeos, Philisteos, Ninivitas e Babylonios! Sodoma e Gomorra tambem! Sardanapalo, Balthazar, Herodiada, Cleopatra, Nero, Attila, Gengiskhão,