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O INFERNO

afogadilho de seculo, que vol-o prohibem os theologos.

Ficai entre peccadores, no foco das tentações, dos escandalos, dos erros, e das ciladas que vos tramam. Razoavel coisa seria fugir para o porto seguro que vos offerecem; mas não vades; continuae a navegar entre restingas, á mercê dos tufões, aos clarões dos relampagos. O convento não vos quadra; porque não foi feito para muitos.

Entendo, direis, que o convento se abriu para os entes mais debeis, para os incapazes não só de ajudar a outrem, mas tambem da mesma mente se salvarem, sem se arriscarem ás tempestades. Faz-se mister ás almas frageis e justamente timidas o estreito cenobio do claustro, a protecção das gradarias, a escravidão, as regras, o véo sobre os olhos, a mordaça nos labios; sem o que se perderiam. Em quanto os valentes combatem, vão ellas esconder-se longe do inimigo.

No seu caminho se arrastam gemebundos alguns fugitivos, fallidos de animo, cahidos por terra, feridos de suas proprias armas, e quem sabe se alguns heroes alanciados no coração! Entendo, direis, que o claustro é o refugio dos pusillanimes, o porto dos naufragados, o hospital dos infermos, e aqui se mostra a apparente razão porque nem toda a gente lá póde entrar.

Está enganado o duro leitor, que nada percebe dos mysterios theologicos. Saiba pois que o claustro é o asylo dos fortes; e que só lá são recebidos os athletas