senão o tempo, os minutos necessários para tornar-me senhor das estações que vou fazendo.

Sou um eterno descontente, um insaciável, um espírito ávido de sensações novas, cheio duma curiosidade inquieta e de aspirações infinitas; sou como uma sarça de fogo, que tudo procura devorar. Sou um atormentado pelo ideal, nunca satisfeito com o que produzi, mas cheio sempre de entusiasmos e de alegrias pelas obras que sonho realizar, um atormentado por essa vontade, essa necessidade de renovamento, que leva a serpente a mudar constantemente de pele. "A serpente morre quando não pode mudar de pele: do mesmo modo os espíritos a quem se impede de mudar de opiniões deixam de ser espíritos." Viver é mudar, mudar continuamente de ritmo, renovar-se perpetuamente: renovar-se ou morrer, dizia Da Vinci. Goethe escreveu na segunda parte do Fausto: Tudo o que passa não é senão símbolo. E Nietzsche, ao recordar-lhe, disse: Todo o imutável não é mais do que símbolo, e os poetas mentem muito.

Afirma Nietzsche que o conhecimento de si mesmo e, por conseguinte, o descontentamento de si próprio, são a base de toda a cultura, palavras que lembram Pascal quando diz que a dúvida é o fundamento do humano saber. "Vejo acima de mim, escreve o mestre admirável, alguma cousa de mais elevado, de mais humano do que o que sou; auxiliai-me todos a atingir este ideal,