Desgraçadamente, ai de mim! não rezo mais: mas sinto que a religiosidade jaz dentro de meu sentir inteiriça e irredutível.

Muito diáfana, idealizada, mas é sempre ela. Uma epidemia — a febre amarela — pôs-me fora do Lagarto, no engenho; outra, a do cólera morbus, em 1856, fez-me voltar definitivamente para a vila, para a casa de meus pais.

Havia mais recursos na povoação do que no engenho, quase despovoado na escravatura pela peste.

As cenas do cólera de 1856 foram dolorosíssimas por quase todo Brasil.

Lembra-me bem a chegada à casa paterna em meio da epidemia.

Numa vasta sala (era a sala de jantar), junto a uma das paredes laterais, em colchão posto no chão, agonizava minha irmã Lídia, a primeira deste nome.

Minha mãe, chorosa, sentada perto da doentinha, punha-lhe botijas de água quente, fervendo, aos pés. Meu pai, ainda muito vigoroso, e um senhor que eu não conhecia (era o médico) preparavam numa mesa, ao meio da sala, um emplastro de não sei que substâncias.

A menina, muito formosa, nos seus quatro anos, muito esperta, muito inteligente, muito pegada com minha mãe, só tinha, então, vida nos seus enormes olhos negros.

Que estranho olhar!