O reino de Kiato
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se dizer, estava nas estações das vias ferreas a receber os parentes e os amigos que chegavam. Cada habitação da cidade hospedaria o maior numero de pessoas que lhe fosse possivel. O excesso iria para a «cidade-hospedaria», onde não faltariam aos recem-vindos, commodos e conforto.

Pela madrugada do dia da festa, ainda chegaram trens.

O dia da commemoração do centenario amanheceu como outro qualquer dia. Nem uma demonstração de regosijo! Nem repiques de sino, nem alvoradas, nem foguetes. As fabricas abriram-se, os operarios foram para o trabalho, a vida continuou como nos outros dias.

Paterson exasperou-se e dizia a Robert:

— Dizem que o inglez é frio; mas este povo tem a frieza do cadaver. Como é o sentir desta gente?

— Nós não podemos julgal-a; deante d’ella, somos animaes inferiores. O seu contentamento é todo espiritual. Os seus sentidos estão aperfeiçoados. Nella nada mais existe do aborigene. Os repiques de sino, a musica de pancadaria, os foguetes, enthusiasmam a plebe, a burguesia mesmo, mas aqui não existem degradados. Tinha que ver este povo á frente de uma banda de musica, a fazer piruetas! Isso é para os paizes decadentes...

Paterson sahiu a ver a cidade: vivia a sua vida normal. Os bondes trafegavam, as fabricas trabalhavam, nas ruas o movimento de todos os dias. Foi ao pavilhão, queria vel-o antes da sessão. Estava prompto o salão de seis kilometros. Não o ornavam bandeiras nem festões. Nas columnas, enredavam-se virentes trepadeiras. De espaço a espaço, nas archibancadas, jarros de fina porcelana de Lizerna, com roseiras e tulipas, lyrios e jacynthos. Ao lado do estrado em que, provavelmente, se sentaria o rei, um ap-